MANAUS – Estudo da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) que analisou quatro capitais brasileiras mostra que Manaus foi a cidade com maior proporção de excesso de mortes naturais, mortes não explicadas diretamente pela Covid-19 e de mortes fora do hospital entre fevereiro e junho de 2020. As vítimas tinham idade acima de 20 anos.
A pesquisa ‘Excesso de mortes durante a pandemia de Covid-19: subnotificação e desigualdades regionais no Brasil’ é assinada por cinco pesquisadores. O coordenador é o epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz Amazônia. No estudo, os autores afirmam que as porcentagens elevadas sugerem alta subnotificação de óbitos pelo novo coronavírus.
O ‘excesso de mortalidade’ representa uma situação em que o número de mortes está acima do esperado, segundo o padrão de mortalidade observado na população. Orellana explica que, analisando essa situação, é possível combater a subnotificação.
“Quando você vê que tem um excesso de mortes naturais agora no período pandêmico, em comparação com períodos anteriores, você já percebe que tem alguma coisa muito fora do normal. Se você faz essa mesma avaliação para o indicador de excesso de mortes por causas respiratórias você chega a uma conclusão até mais precisa”, diz.
Orellana afirma que outro levantamento, que avalia especificamente o excesso de mortes por causas respiratórias, aguarda aprovação.

O pesquisador afirma que usar esses indicadores para calcular o efeito da mortalidade da pandemia sobre a população é mais preciso que avaliar apenas as mortes confirmadas por Covid-19.
“Do dia 1° ao dia 20 de janeiro você tinha somente 945 óbitos confirmados por Covid-19 em Manaus. No dia 10 de fevereiro, quase 15 dias depois, essa mesma estatística do dia 1º ao dia 20 de janeiro passou para aproximadamente 1,5 mil”, afirma.
“Às vezes demoram a fechar a investigação do óbito, a fechar a documentação do paciente no hospital, o paciente morre fora do hospital e fica sempre mais lenta a investigação, demora para chegar o resultado do exame para confirmar ou afastar a hipótese de Covid. Uma série de fatores que faz com que você tenha uma imprecisão muito grande em relação ao indicador de mortalidade específica por Covid-19”, explica Orellana.
Excesso de mortes

O estudo comparou o total de mortes naturais de 23 de fevereiro a 13 de junho de 2020 com o que foi registrado nesse intervalo nos anos de 2015 a 2019, contexto sem a pandemia. São considerados apenas os óbitos provocados por outras doenças, sem incluir a Covid-19 e outras causas, como acidentes e homicídios.
De acordo com a pesquisa, nesse período foram registradas 74.656 mortes naturais, sendo 32.338 em São Paulo, 26.236 no Rio de Janeiro, 9.784 em Fortaleza e 6.298 em Manaus.
Com base nos cálculos feitos pelos pesquisadores, o esperado para 2020 eram 51.422 óbitos, resultando em um excesso de mortes de 45%. O maior excesso ocorreu em Manaus, 113%, seguido por Fortaleza, 72%, Rio de Janeiro, 42% e São Paulo, 34%.
O estudo destaca a SE (Semana Epidemiológica) 17-20 como a que teve o maior excesso de mortalidade em Manaus, com percentual de 296%. Essas semanas equivalem ao período de 20 de abril a 17 de maio de 2020, quando ocorreu o primeiro pico da pandemia na capital do Amazonas.
Fonte: Amazonas Atual